sexta-feira, 1 de dezembro de 2017.

É inegável que todo projeto pedagógico parte de uma determinada concepção do homem, do mundo e da própria educação. Assim sendo um projeto pedagógico comprometido com a educação integral do ser humano sempre partirá destes pressupostos, mas não de modo sumário e muito menos pautado nesta ou naquela necessidade específica e imediata, se não pautado na questão dos fins. E esta questão dos fins há que fazer com a finalidade última do homem enquanto o destinatário da educação, mas também com a própria ordem intrínseca ao universo e ao próprio homem. E o fim último da educação, filosoficamente falando, para além da própria formação intelectual e profissional, é a contemplação da verdade do homem, do cosmos, que quer dizer mundo, e de Deus.

Em outras palavras e de acordo com a concepção católica, isto é, universal do homem, do mundo e da própria educação, a ação educativa tem por objetivo levar o homem a cumprir com sua mais alta vocação que é conhecer e amar a Deus, a qual todas as demais ações, intervenções e metas educativas devem ter por fim último. Por isso a educação católica pode dizer com propriedade que forma integralmente o homem sem descuidar ou tratar desproporcionalmente esta ou aquela dimensão humana.

A educação católica, a partir do conhecimento dos fins (teológica e filosoficamente), tem condições de fazer atenção adequada as dimensões físicas, intelectuais, morais e religiosas e traçar um excelente projeto pedagógico. Antes, porém, de debruçar-se sobre questões estruturais e mais específicas do projeto pedagógico é importante ter clara uma síntese da visão católica do homem e da educação. A questão cosmológica dos fins ou a visão católica do mundo, é possível entrever da própria visão do homem e da educação.

VISÃO CRISTÃ DO HOMEM E DA EDUCAÇÃO

São os seguintes os princípios básicos de uma filosofia católica de vida e de educação:

1. O universo foi criado por Deus Todo Poderoso e é governado por Sua Providência.

2. O homem, criatura formada de corpo e alma, foi criado por Deus para servi-LO na terra e alcançar, com Ele, a felicidade no Céu.

3. Dotado de consciência e livre arbítrio, o homem é responsável por sua conduta, cujas normas são preestabelecidas pelos princípios eternos da lei moral. Essa lei moral é imutável e independente do homem.

4. O homem recebeu de Deus o dom de aprender certas verdades de ordem natural e sobrenatural, e Deus revelou-lhe verdades de ordem sobrenatural, verdades que, dado o limite da capacidade humana, não poderia aprender de outro modo.

5. Deus doou ao homem certos meios sobrenaturais de conduta, como, por exemplo, a graça que ultrapassa os poderes naturais do homem.

6. Em consequência do pecado original, o homem tem um intelecto limitado reduzido para perceber a verdade, e uma vontade também limitada para procurar o bem, e sua natureza mais inclinada para o mal. O pecado original não afetou a natureza da inteligência e vontade humanas, mas privou-as de especiais e poderosos recursos.

7. Através do batismo, certos dons sobrenaturais são restituídos ao homem, mas permanecem os efeitos do pecado original no que toca à inteligência, à vontade e à natureza.

8. O homem, pela sua verdadeira natureza, é ser social, tendo obrigações para com a sociedade e sendo, em troca, por ela afetado.

9. A educação, que é, ao mesmo tempo, processo individual e social, deve abranger a formação, o desenvolvimento e a orientação sistemáticos de todas as potencialidades legítimas do homem, de acordo com a sua verdadeira natureza e a hierarquia essencial dessas potencialidades.

10. A finalidade da educação é, portanto, orientar o homem no sentido de poder ele

atingir o fim para que foi criado. Sua finalidade pode ser, pelo menos parcialmente, atingida através de:

a) perfeita formação, moral e religiosa, dentro dos princípios cristãos;

b) inteligência disciplinada e iluminada pela verdade e guiada pelos ensinamentos da religião;

c) vontade disciplinada que, pela aquisição do autocontrole e firme adesão aos princípios morais, luta por atingir o mais alto nível da perfeição humana;

d) apreciação de deveres, obrigações e direitos do homem e da sociedade, conforme o que foi estabelecido pelo Criador;

e) reconhecimento da ordem e harmonia do universo, aplicável ao homem, à natureza e à sociedade;

f) amor à verdade, virtude e justiça;

g) aquisição de capacidade para prover seu sustento e fazer que a vida seja digna e verdadeiramente católica.

Pode-se facilmente perceber que os princípios precedentes se enquadram nas categorias: filosóficas, filosófico-teológicas e teológicas.

Referências

  1. REDDEN, J.D. RYAN, F.A. Filosofia da Educação. Rio de Janeiro: Agir, 1973. p. 14-15.
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