terça-feira, 1 de agosto de 2017.
Os primeiros educadores, e educadores por excelência, são os pais – ou os que fazem as suas vezes, como, por exemplo, na falta deles, os padrinhos de batismo – de modo que ninguém pode subtraí-los esta obrigação, nem o Estado e nem mesmo a escola.
Assim sendo a escola e os professores, no que lhes compete, tem a tarefa de auxiliar os pais na missão de educar. “É bela, portanto, e de grande responsabilidade a vocação de todos aqueles que, ajudando os pais no cumprimento do seu dever e fazendo às vezes da comunidade humana, tem o dever de educar nas escolas; esta vocação exige especiais qualidades de inteligência e de coração, uma preparação esperadíssima e uma vontade sempre pronta à renovação e a adaptação” .
Uma vez que a educação católica traz suas raízes do mandato de Jesus Ressuscitado no momento da Sua Ascensão, quando disse aos discípulos: “Ide e ensinai!” (Mt 28,19-20), é preciso extrair do ensinamento e da prática da Igreja pontos determinantes do perfil e da ação do educador católico. “Efetivamente, não se pretende falar aqui do professor como um profissional que se limite a transmitir na escola uma série de conhecimentos sistemáticos, mas, sim, do professor como educador, como formador de homens”.
Antes de tudo a educação católica é um autêntico apostolado . E para assim o ser de fato necessita estar em comunhão profunda com a hierarquia da Igreja, enquanto instituição apostólica . O educador católico está sempre atento ao que ensina a Igreja através do Papa e dos bispos. E procura sempre aprofundar-se na doutrina católica quanto às verdades de fé, quanto ao ser humano e a própria educação.
A educação católica enquadra-se também nas obras de misericórdia enquanto trata da instrução dos ignorantes (ensino propriamente dito), dar bons conselhos (ensinar o bem, a procurá-lo e realizá-lo) e admoestar os que erram (que significa afastar-se do mal), em outras palavras, propor um caminho de virtudes, formando intelecto, vontade e liberdade. O educador católico não pode perder de vista que é chamado a operar na formação do ser humano por inteiro para esta vida, e principalmente para a vida eterna.
Aqui se faz conveniente responder a uma pergunta: Quem é o profissional da educação? Primeiramente o professor, por ser aquele que lida diretamente e maiormente com os alunos. Mas é preciso considerar todos os demais que colaboram na composição do ambiente escolar: diretor, auxiliares administrativos e pedagógicos, inspetores, bibliotecário, cozinheiros, faxineiros, etc. Isto se levarmos em conta que com o testemunho de vida também se ensina e talvez até mais que com as palavras . Deste modo podemos parafrasear um conhecido dito: Quem colabora com a educação tem méritos de educador – principalmente nestes tempos difíceis .
Qualquer um que queira ingressar nas fileiras do apostolado educacional católico deve, antes de tudo, ser católico, de fé abrasada e apaixonado pela educação conforme a visão católica. Podemos distribuir em três blocos algo que fale do perfil e da ação do educador católico: ele tem vida espiritual autêntica, busca a formação e é ardoroso no apostolado.
Vida espiritual
Significa antes de tudo uma vida empenhada na oração e nas práticas de piedade. “Para irradiar Cristo é necessário estarmos cheios de Cristo” . E o que delineia a vida espiritual do educador católico é a oração constante pessoalmente e comunitariamente; a assiduidade aos sacramentos, sobretudo a Eucaristia e a Confissão; a ascese, que significa a capacidade para o sacrifício; e a prática das virtudes . Somente uma autêntica vida de piedade tornará mais eficazes seus esforços. E vida de piedade significa o governo e o encaminhamento da própria alma nos princípios da Religião .
Sólida formação católica e profissional
Hoje mais do que nunca este aspecto é imprescindível no perfil e na ação do apóstolo da educação: o embasamento formativo e a continuidade progressiva na formação. Esta formação engloba os aspectos próprios da profissão (professor, pedagogo, gestor, etc) mas também questões de ordem filosófica e teológica. O educador católico está sempre empenhado em aprofundar os conhecimentos à luz do ensinamento católico de sempre participando de conferencias e fazendo leituras idôneas a respeito, sobretudo quando se depara com uma situação desafiadora. Procura ser um profundo conhecedor da doutrina católica e estudioso da mesma: está sempre é incondicionalmente com a Igreja, presta o assentimento de fé – principalmente em tempos que as verdades de fé são cada vez mais ignoradas pelos homens.
Ardor no apostolado
A eficácia do apostolado educacional dependerá da fidelidade à vida espiritual e à formação contínua. “Quanto bem não produz, numa grande cidade, uma associação cristã a viver, verdadeiramente, a vida sobrenatural! Opera como poderoso fermento e só os anjos podem dizer como ela é fecunda em frutos de salvação” . E isto não se fará sem apóstolos verdadeiramente ardorosos no que fazem, antes de tudo porque são pessoas de profunda vida espiritual e conhecedoras das verdades de fé de modo a propagar a chama abrasada aos outros, começando pelas crianças e pelos jovens. “A restauração da sociedade terá de passar, necessariamente, por uma intensa irradiação da santidade da Igreja” .
O apóstolo da educação deve estar disposto a percorrer o caminho de santidade, nos dias atuais mais que nunca. Deve ter a coragem de “tender constantemente à ‘alta medida da vida cristã’ que é a santidade, porque só da fidelidade à Cristo pode surgir a autêntica renovação eclesial . (...) ‘Cristo antes de tudo’, Cristo no centro do coração, no centro da história e da criação. (...) o encontro vivo com Cristo se realiza em sua Igreja, santa, mas frágil, radicada da história e seu porvir, às vezes obscuro, no qual o trigo e o joio crescem juntos (cf Mt 13,30), mas que é sempre Sacramento de Salvação. (...) Para combater o joio (...) ser bom trigo (...) amar Cristo na Igreja e contribuir para tonrá-la cada vez mais sinal transparente d’Ele” .
Referências
- “É, sobretudo, na família cristã, ornada da graça e do dever do sacramento do Matrimônio, que devem ser ensinados os filhos desde os primeiros anos, segundo a fé recebida no batismo a conhecer e adorar a Deus e a amar o próximo”(...). “O dever de educar que pertence primariamente à família, precisa da ajuda de toda a sociedade” (GE 3. CONCÍLIO VATICANO II. Gravissimum Educationis. Roma, 1965).
- GE 5.
- LC 16. SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. O leigo católico testemunha da fé na escola. Roma, 1982.
- Cf GE 8.
- Cf EC 71. SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. A Escola Católica. Roma, 1977.
- “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, (...) ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (EN 41. PAULO VI. Evangelii Nuntiandi, Roma, 1975).
- Seria uma ruína para qualquer instituição educacional onde em sala de aula o professor ensinasse as virtudes e nos corredores ou no pátio os alunos encontrasse algum profissional que contradissesse com o mínimo ato o que apenas fora ensinado. E isto vai desde um escândalo propriamente dito, mas também o serviço desempenhado com desleixo.
- Pio X. Apud. CHAUTARD. J.B. A alma de todo apostolado. 1907.
- A respeito das principais virtudes do educador católico, escreveu São José de Calasanz, Pai da Pedagogia Pós-Tridentina: "É preciso terem muita caridade, a máxima paciência, e, sobretudo, profunda humildade aqueles que assumem este ofício que exige cuidado contínuo" (Dos escritos. Apud. Liturgia das Horas. 25 de agosto).
- Cf CHAUTARD. p. 11.
- Cf Cân. 803. Por esta razão a Profissão de Fé (Credo Niceno-Constantinopolitano) será recitada todos os dias antes do início das atividades escolares e de cada evento escolar extracurricular: para expressar a comunhão com as verdades eternas de fé as quais conhecemos através da Igreja; depois de que, tendo-as fixadas no coração e na mente, expô-las serenamente, mas com muita convicção ao mundo. Código de Direito Canônico.
- CHAUTARD. p. 43.
- CHAUTARD. p. 103.
- BENTO XVI. Audiência Geral. 07.10.2009.