terça-feira, 1 de outubro de 2019.
Dentre os fins do Sacramento Matrimônio está a conservação da prole, que significa a geração dos filhos, e a educação das novas gerações de cristãos. Aqui os pais são duplamente privilegiados, antes de tudo por colaborar com Deus na obra da Criação, pois uma vez tendo sido concebidos os filhos, quem lhes infunde a alma imortal é Deus; depois de que, a razão da nova vida, entregue por Deus aos cuidados dos pais, é conhecer e amar a Deus como criador e Pai, e os pais tem papel fundamental nisso. A missão educativa dos pais desenvolve-se a partir dessa concepção do matrimônio e da família.
Na educação dos filhos os pais católicos precisam ter muito bem alicerçada e organizada a sua escala de valores. E tal escala só pode ser corretamente organizada a partir da fé católica. O que não é difícil, basta que os pais católicos observem a ordem das coisas e, é claro, não sem uma vida interior bem formada, isto é, de oração, sacramentos e conhecimento da doutrina católica. Já falhariam pais que na educação dos filhos preocupassem com aspecto profissional e financeiro no futuro, ainda que para isso escolhessem as melhores escolas. O fim da educação do homem não se esvai nessa vida.
O Decálogo já apresenta um itinerário pedagógico para os pais no tocante a correta ordenação da hierarquia de valores. Ora, a primazia da educação católica é o amor a Deus: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda a tua alma, de todo teu entendimento e com toda tua força” (Mt 22,37). Tudo no homem deve ser educado para cumprir com excelência esse mandamento supremo, no qual consiste a felicidade. E para que a família possa cumprir bem com a sua missão foram-lhe dados pela Divina Providência instrumentos eficazes.
A Sagrada Escritura é o melhor “livro didático” que os pais podem usar para educar os filhos. Junto da qual devem acrescentar a história da vida dos santos e o que eles ensinaram. Os heróis dos lares católicos não são os atores dos filmes e novelas, muito menos os chamados youtubers, mas os santos. E saibam os pais o quanto as histórias contadas para os filhos são um recurso potente na educação da imaginação.
Ainda dentro das Escrituras, cujo coração são os Evangelhos, os pais devem saber falar para os filhos a respeito de Jesus, como quem fala de um amigo muito próximo. Devem saber falar do que Ele fez e ensinou, isto é, seus milagres e suas palavras. E, de modo muito particular, falar da Paixão de Jesus pela salvação dos homens. Falar de tudo que Nosso Senhor fez e ensinou e, especialmente de seus sofrimentos e de sua morte, desperta o amor a Deus nas almas.
A educação católica deve ser e será muito favorecida pela vida de oração, começando pelo testemunho dos pais e pelo ambiente de oração dentro de casa. Junto da educação religiosa, a vida de oração fará do lar católico uma verdadeira Igreja Doméstica. Os pais são responsáveis por ensinar aos filhos as principais orações do católico, além de recolherem-se em oração em família de modo rotineiro. A Missa Dominical e nos dias santos, assim como a oração meditada do Rosário em família, são poderosos recursos educativos nas mãos dos pais.
A criança desde cedo deve aprender a conviver com naturalidade com as realidades espirituais naturais ou de fé: a Santíssima Trindade, a alma humana, a vida eterna, o Céu, a Virgem Maria, os santos e os anjos. A criança precisa aprender, e possui condições muito favoráveis para isso, que o mundo espiritual é mais real do que o mundo material. Nesse contexto a devoção e a convivência com o Anjo da Guarda desde a tenra idade é muito importante. Para isso os pais devem conhecer a doutrina católica a respeito de tão grandes amigos dos homens. Assim como o professor em sala de aula deve preparar-se continuamente, os pais católicos, a fim de oferecer uma educação familiar autêntica aos filhos, devem formar-se continuamente no que há de melhor em matéria religiosa.
A família não pode, terceirizar ou delegar a educação dos filhos à escola ou ao Estado, sob pena de faltar gravemente com sua missão. Eles devem apoiar a missão educadora da família, mas nunca a substituir. Em vista disso, os pais católicos devem procurar boas escolas para matricular seus filhos, acompanhar e, por vezes, até mesmo complementar – e, infelizmente, em determinadas ocasiões, corrigir – a educação realizada no ambiente escolar, seja ele qual for. Os pais católicos se interessam pelo que os filhos estão aprendendo na escola, abrem seus cadernos e livros, pedem que repitam as lições, a fim de saber como anda o progresso escolar em todos os níveis.
Uma vez alicerçada a vida da graça e a sólida doutrina, a educação para as virtudes dará a tônica e o brilho da educação cristã para a vida. O fundamento e a seiva no grande edifício das virtudes são as virtudes teologais da fé, esperança e caridade. Depois de que as virtudes cardeais da prudência, fortaleza, temperança e justiça, em torno a elas orbitam todas as demais virtudes como satélites, lhes darão desdobramento. Além do que a educação católica tem um especial apreço pelas virtudes da fé, da pureza e da humildade.
A educação cristã deve formar para o bem, mas também para afastar-se do mal, não expondo-se a perigos tanto para a alma quanto para o corpo. Por isso os pais devem identificar tudo que possa prejudicar ou impedir a verdadeira educação dos filhos e defendê-los ardorosamente. E uma vez os filhos tendo condições, escolham eles próprios praticar o bem e afastar-se do mal. Na educação católica não há espaço de convivência pacífica entre o bem e o mal, e ao erro não é dado direito de propagar-se em detrimento da verdade. O bem e a verdade deverão sempre ser incentivados, enquanto o mal e o erro, vigorosamente combatidos.
Hoje são inimigos da educação dos filhos: a ideologia do gênero que é um passo para a exposição sexual e inclusive cada vez mais precoce das crianças e jovens; o anti-intelectualismo, que é o desprezo e a negação pela educação da inteligência e o mito de que a verdadeira educação seja algo meramente prazeroso e que não exige sacrifícios; o ateísmo militante ou o que gostam de chamar de “laicismo”, sob a bandeira da tolerância religiosa, mas que na verdade não é apenas a desconsideração da religião ou seu banimento no ambiente público e escolar, mas a fomentação do ódio a Deus e a Religião Católica; o relativismo, sobretudo moral, que nega os valores fundamentais da sociedade humana, começando por aqueles que emanam da família; são estes entre tantos outros perigos que rodeiam as novas gerações. Uma vez que os pais católicos tenham identificado os inimigos da educação dos filhos, devem entrar em campo de batalha e empreender um verdadeiro combate.
A educação católica contém tudo que é necessário para a formação de bons cidadãos e bons profissionais, pois a educação que tem um fim tão nobre e elevado, acabará por elevar todas as demais esferas da vida humana. Essa é, portanto, a maior herança que os pais devem desejar para os seus filhos: uma verdadeira educação, ou seja, aquela que tem por fim a formação do homem sábio, do homem para Deus. E isso pode realizar com excelência a educação católica.
Certamente num tempo de secularização, que é a audaciosa pretensa do banimento intencional de Deus e da Religião das esferas públicas e principalmente da educação, os pais católicos que conhecem bem a sua missão e a importância da educação dos filhos, ao deparar-se com a realidade dos fatos, ficarão ao início no mínimo perplexos, quando não assustados em relação ao que os filhos necessitam como católicos e o quão aquém fica este ou aquele estabelecimento ou sistema educacional. O que fazer? – perguntam os pais católicos. E a resposta não pode ser outra: Comecem sendo os primeiros e intrépidos educadores dos filhos, levando em conta muito seriamente tudo que foi dito até aqui. Depois de que apoiem moralmente e financeiramente a educação verdadeiramente católica a fim de que ela renasça e volte a se espalhar por nossa pátria, tal como outrora brilhou através dos jesuítas e das inúmeras ordens religiosas que chegaram para desbravar, evangelizar e civilizar a Terra que dedicaram a Santa Cruz com esse poderoso instrumento que é a educação.
Referências
- PIO XI. Divini Illius Magistri. Roma, 1929.